Servidor reage à declaração sobre Previdência

 
Com informações: Correio Braziliense 
 
 
 
O candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, em entrevista à TV Bandeirantes, na última terça-feira, afirmou que o serviço público é “uma fábrica de marajás” e que é o “grande problema da Previdência no Brasil”. Prometeu que “vai acabar com incorporações de gratificações” e “privatizar ou extinguir estatais que dão prejuízo”.
 
 
Para Rudinei Marques, presidente do Unacon Sindical e do Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate), seria bom que Bolsonaro averiguasse os dados oficiais sobre o rombo. Ele critica que a proposta do candidato do PSL para a Previdência deixe de fora os militares. Para o setor público e privado, a proposta dele prevê idade mínima de aposentadoria de 61 anos para os homens, com 36 anos de contribuição; e 56 anos para mulher, com 31 de contribuição. “Não pode tratar policial militar e Forças Armadas da mesma forma”, disse. Seria obrigar o pessoal da caserna a usar ou “um fuzil ou uma bengala”, completou.
 
 
Marques lembrou que a aposentadoria — ou reforma, eles ficam eternamente à disposição — é 16 vezes mais cara do que a de um beneficiário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O deficit per capita anual (necessidade de financiamento) dos militares ficou em R$ 99,4 mil no ano passado, ante R$ 6,25 mil no INSS e de R$ 66,2 mil dos servidores civis da União. Nas contas públicas, o buraco que mais cresceu, em 54,7% de 2016 para 2017, passando para R$ 71,7 bilhões, foi o urbano, ou seja, nas capitais.
 
 
O discurso do candidato, reforçou Marques, demonstra seu “desconhecimento da matéria”. “Em todos os debates ao longo de 2017, mostramos que o problema do Regime Próprio foi equacionado com a criação da previdência complementar (Funpresp). Em 15 anos, teremos o equilíbrio. E quem ainda vai receber o valor total dos rendimentos contribuiu para isso (11% do salário)”.
 
 
Intimidação
 
Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), destacou que “esses jargões em forma de intimidação não funcionam na prática”. “Em primeiro lugar, Bolsonaro precisa ser eleito. Caso o seja e tente cumprir as ameças, vai provocar uma enxurrada de ações judiciais”. Mais de 120 mil servidores do “carreirão” se preparam para  vestir o pijama, o que Silva considera um caos, tendo em vista que não há previsão de concurso público para repor esse pessoal.
 
 
José Roberto Savoia, especialista em administração e previdência da Saint-Paul Escola de Negócios, tentou amenizar o impacto do discurso de Jair Bolsonaro. “A gente tem que separar o que é dito no calor da campanha e as medidas que serão tomadas”, disse. Savoia destacou que as propostas para uma futura reforma da Previdência não foram totalmente desenhadas por nenhum dos candidatos à Presidência da República, embora alguns itens, no momento, estejam em sintonia com as aspirações do mercado, como a aproximação das regras sobre de aposentadorias entre o serviço público e a iniciativa privada. “É precipitado querer avaliar coisas tão sérias por meio de frases de campanha”, reiterou.