Parte da PF não recua

Autor(es): » VERA BATISTA

Correio Braziliense – 31/08/2012

 

Agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal estão entre as 11 categorias que disseram não à proposta do governo de reajuste salarial de 15,8%, em três anos. Após assembleia no fim da tarde de ontem, para discutir sobre os próximos protestos, mantiveram o propósito de continuar de braços cruzados para não ficar presos a um documento que posterga qualquer nova conversa sobre reivindicações para 2016 . Segundo o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Marcos Wink, eles não abrem mão da reestruturação da carreira e da inserção na tabela de remuneração de nível superior. “A greve continua. Já marcamos as manifestações da próxima semana e o calendário de paralisações, até que essa situação se resolva”, afirmou Wink, ao destacar que já há atos agendados para os próximos quatro meses.

Depois da reunião de ontem, os policiais federais seguiram para a frente do Ministério do Justiça e acenderam velas em protesto contra o endurecimento do governo em relação à greve, iniciada em 7 de agosto. Insatisfeitos, eles dizem que, como não contam com o reconhecimento do Planalto, vão agir como funcionários que desempenham funções de nível médio. Assim, prometeram boicotar ações de inteligência da PF, como infiltração, campana, interceptações telefônicas e investigação de organizações criminosas, entre outras, porque exigem habilidades de nível superior. Eles prometeram até fazer uma cartilha com orientações sobre como exercer apenas funções de nível médio.

“É para que o governo entenda o absurdo da situação que é cobrar ações de inteligência e planejamento de quem não tem como desempenhá-las”, enfrentou Marcos Wink. Ele contou que a categoria tem hoje salários entre R$ 7,5 mil e R$ 13 mil e que não recebe reajuste há mais de três anos. Com a reestruturação e a equiparação às carreiras de Estado, os ganhos subiriam para entre R$ 11,5 mil e R$ 19 mil. Os policiais federais se disseram ainda mais irritados com as diferenças salariais dentro da corporação porque não contam com o apoio de colegas, como delegados e dirigentes, que discordam da equiparação. Para Marcos Wink, a desculpa do secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, de que não existe reestruturação de carreia a custo zero não serve de argumento para o que chamou de desrespeito aos agentes, escrivães e papiloscopistas.

Última cartada
“Se tudo já tivesse sido conversado, alinhavado e levado a sério, o impacto orçamentário, que é pequeno, garanto, teria sido diluído. Agora, impor uma situação, na marra, é que não é justo”, insistiu. Os policiais não estão sozinhos. Nas projeções do governo, eles são apenas 10% dos servidores do Executivo ainda parados. Os outros 90% fecharam acordo de última hora e vão retornar ao trabalho na segunda-feira. “Não pode ser tão difícil nos entender. Não é uma questão de dinheiro apenas. É de respeito”, reforçou Wink. Como resposta, o governo garante que não fechou as portas. Vai continuar negociando com quem aparecer. Reajuste salarial, porém, só em 2014. Mesmo assim, os grevistas ainda não se deram por vencidos. Vão tentar a última cartada no Congresso, durante a votação do Orçamento da União de 2013.