Frei Betto encerra a rodada de palestras do Congresso

Para encerrar último dia do II Congresso Nacional da Carreira de Finanças e Controle (II Conacon), no final da tarde desta quarta-feira, 7 de novembro, o escritor e Frade Dominicano, Frei Betto discutiu o tema “Gasto Público e Direitos Humanos”. Falando sobre Reflexos da Corrupção e da Ineficiência na Realização dos Direitos Humanos, Betto deu início à palestra com uma reflexão. “Estamos hoje na terceira margem do rio, como diz Guimarães Rosa. Um quadro curioso em que nos encontramos à margem do conceito de pecado, mas ainda não chegamos à margem socrática da razão. Daí esse vale-tudo, que vemos hoje”.

O Frade apontou que a corrupção é um fato generalizado, que acontece no mundo inteiro  e que é inerente a condição humana. Ele explicou que a palavra ética vem de Ethos, e o resultado de casa é a formação do caráter. Para ele, a moral depende do contexto em que as coisas ocorrem e a ética são os valores universais. “Nós somos a primeira geração que entrou no Olimpo ético. Nossos pais ainda tinham o sentimento da culpabilização, do pecado, mas isso acabou. Hoje em dia, filhos e netos não estão preocupados com o pecado. Nós abandonamos a margem do conceito religioso de pecado e ainda não chegamos ao conceito Socrático da razão”, afirmou.

O palestrante definiu o Estado como um mal necessário. De acordo com o escritor, é preciso que haja uma entidade política que normatize as ações da sociedade. O Estado trabalha com dois braços: administrativo e coercitivo. Sendo o braço Administrativo relativamente universal e o braço coercitivo fazendo distinção de classe (existe pros pobres, mas não pra outra parte da sociedade). Frei Betto dá a mendicância como um exemplo de falha do Estado. “Só do ser humano ser submetido a mendigar, se humilhar, mostra que o Estado não fez o seu papel”, exemplifica.

Para falar do capitalismo dos dias de hoje, Frei Betto citou os estudos do filósofo alemão Karl Marx, que fez uma análise do sistema capitalista e mostrou que na sociedade em que vivemos predomina os interesses de quem domina essa sociedade. Ainda sobre o capitalismo, chamou a atenção para o fato de dois terços dos sete bilhões de habitantes do mundo viverem na pobreza ou na miséria. “A modernidade ou o capitalismo não foram sucesso. Só um terço da sociedade foi beneficiada com esse sistema. O balanço que podemos fazer do mundo de hoje é de um mundo desigual, conflitivo e de uma África miserável”, disse. 

Frei Betto também defendeu a teoria de que um dos fatores que influencia a ética em uma sociedade são os paradigmas de cada época. Fez a reflexão de qual será o paradigma da pós-modernidade e respondeu que seu maior medo é que aconteça a mercantilização de tudo, ou seja, tudo passe a ter um valor monetário. Para ele, a paz só vai existir no mundo quando a luta for pela justiça. 

Ele afirma que o Brasil é afetado pela corrupção. E que a Declaração dos Direitos Humanos foi um grande avanço, mas faltam os direitos de igualdade e de solidariedade. “Quando a gente fala de Direitos Humanos é preciso ter em mente que América Latina ainda tem uma economia precária, ainda tem briga por comida. O Brasil tem 16 milhões de pessoas miseráveis, 25 mil escravos e quatro milhões de crianças fora da escola”, cita. Para ele, o país ainda precisa avançar muito. Pois, político ainda é tratado como autoridade e não como servidor da população. O palestrante defende, ainda, que as contas bancárias dos políticos brasileiros tinham que ser abertas. “É possível uma ética na política? É possível, existem muitos políticos éticos. Não podemos confiar na ética subjetiva, porque mais importante que ética na política é ética da política. Somos seres dotados de imperfeição”.

Para ele, a criação dos Direitos Humanos é resultado das forças de Direita e que até hoje os princípios elitistas são mantidos. Acha um absurdo a ideia de ainda existir seres humanos que se acham superiores a outros seres humanos. Frei Betto acredita que precisam ser feitas reformas agrária, de educação e muitas outras. “Afinal, a educação faz o ser um ser humano”, aponta. Ele também explicou que a democracia tem três etapas: Delegativa – Brasil só tem essa-, Representativa – só para a elite-, e Participativa – a sociedade civil e sociedade política juntas. “Nem tudo que é Legal é justo”, disse.

O escritor leu um trecho um texto de autoria própria, denominado “Ecologia Interior” e concluiu a palestra falando que o propósito do seu discurso era compartilhar ideias que cultiva sobre ética. “Nada mais ético que criar uma sociedade onde todos sejam felizes e tenham liberdade”, finalizou.

As atividades do II Conacon foram encerradas com a apresentação do grupo de percussão Batalá. Acompanhe a página da entidade no Facebook e fique por dentro das atualizações do evento. www.facebook.com/UnaconOficial

Texto: Bruna Sabarense

Fotos: Cristiano Costa

 

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