Em entrevista, Daniel Lara, vice presidente do Unacon Sindical, fala sobre a carência de pessoal na CGU

“A Controladoria exige e investe muito na formação do seu quadro, mantendo assim uma excelência técnica dos seus profissionais”. Leia na íntegra

ÁREA DE FISCALIZAÇÃO | Estabilidade e remuneração de R$7.741 (técnico) e R$19.655 (auditor) são os atrativos

CGU: edital em breve. 2º e 3º graus

Concurso terá oferta de 375 vagas imediatas. Organizadora deverá ser anunciada nos próximos dias

A Controladoria Geral da União (CGU) corre contra o tempo para divulgar, ainda este ano, o edital do concurso para 375 vagas, sendo 75 de técnico federal de finanças e controle, de nível médio, e 300 de auditor federal de finanças e controle, de nível superior. Em função disso, a expectativa é de que, nas próximas semanas, possa ser anunciada a organizadora da seleção, bem como as cidades de lotação.

A CGU ainda não elaborou um cronograma do certame. No entanto, em cumprimento ao Decreto no 9.739/19, que regulamenta os concursos do Poder Executivo federal, haverá um intervalo de quatro meses entre a divulgação do edital e a aplicação das provas. Se a abertura da seleção acontecer, por exemplo, em novembro, as avaliações são aplicadas somente a partir de março.

O concurso da CGU está atraindo o interesse de milhares de pessoas de todo o país, em função da estabilidade (contratações ocorrerão pelo regime estatutário) e pelas atrativas remunerações. Atualmente, os valores são de R$7.741,31, para técnico, e de R$19.655.06, para auditor, já incluindo R$458 de auxílio-alimentação.

A necessidade de pessoal é grande. Hoje, a CGU conta apenas com 200 técnicos e 1.400 auditores na ativa, porém o quantitativo considerado ideal é de 5 mil servidores, conforme estabelece o Decreto 4.321/2002, que fixa o quadro de pessoal da instituição.

O presidente Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon Sindical), Bráulio Cerqueira, afirmou ainda que o atual efetivo corresponde ao mesmo quantitativo de 2003. “De lá para cá a população brasileira cresceu 16% enquanto o gasto real primário do governo federal aumentou 130%. Ou seja, hoje cada auditor e técnico fiscaliza e audita mais do que o dobro de recursos públicos do que em 2003.”

Embora o prejuízo financeiro advindo da defasagem de pessoal seja enorme, o presidente da Unacon diz que não é possível precisá-lo. No entanto, de forma especulativa, exemplificou que o Brasil deixaria de perder muito dinheiro caso o efetivo voltasse ao patamar de 2009, quando havia 2.625 servidores na ativa.

“Se, por simplificação, assumirmos que R$1 de investimento na CGU signifique um retorno de R$10 aos cofres públicos, se a reposição de pessoal nos levasse de volta ao quantitativo de 2009 o governo federal estaria recuperando cerca de R$ 2 bilhões a mais por ano graças às ações da CGU.”

O último concurso da CGU foi realizado em 2012, para 250 vagas de analista de finanças e controle, que é o atual auditor de finanças e controle. A maior parte das vagas foi para o Distrito Federal. No entanto, houve também oportunidades para o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. Os candidatos foram avaliados por meio de provas objetivas, discursiva, sindicância de vida pregressa e curso de formação.

Em 2008, a CGU abriu concurso para as duas carreiras. Os candidatos fizeram provas objetivas de conhecimentos gerais e específicos.

Por exigir apenas o nível médio e oferecer remuneração inicial de R$7.741,31, o cargo de técnico de controle interno da Controladoria Geral da União (CGU) deverá atrair a concorrência de milhares de candidatos em todo o país no próximo concurso CGU, cujo edital deverá sair muito em breve.

Para falar sobre o trabalho na CGU e as atribuições da carreira, FOLHA DIRIGIDA entrevistou Daniel Lara, que atualmente é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Auditores e Técnicos Federais de Finanças e Controle (Unacon).

Daniel Lara, que ingressou como técnico em 1995, é um exemplo de que a CGU valoriza os seus servidores. Ao longo de sua trajetória de mais de 26 anos, ele já ocupou diversos cargos de destaca na estrutura da Controladoria. “A CGU valoriza muito seus servidores e, sempre que possível, estes assumem cargos na estrutura, sendo raro servidores externos assumirem cargos na CGU”, disse.

Na entrevista, que pode ser vista abaixo, Daniel Lara conta também como foi sua rotina de estudos quando prestou concurso para a CGU e fala sobre a importância da nova seleção que está para ser aberta e de como a falta de pessoal vem prejudicando o bom funcionamento do órgão.

 

Daniel Lara fala sobre o trabalho na Controladoria e da necessidade de pessoal

 

FOLHA DIRIGIDA – VOCÊ INGRESSOU COMO TÉCNICO DA CGU POR MEIO DO CONCURSO DE QUAL ANO? FOI CHAMADO DE IMEDIATO? PASSOU EM QUAL COLOCAÇÃO? ONDE FOI LOTADO? O QUE FAZIA ANTES DE TRABALHAR NA CGU?

Daniel Lara – Ingressei no concurso da carreira em janeiro de 1995. Tinha 19 anos na época. Naquele tempo, éramos comunicados sobre a aprovação por meio de telegrama. Foram15 mil inscritos para 300 vagas. Fui aprovado e classificado em 325. Como houve a desistência de 26 pessoas, fui chamado para fazer o curso de formação.

COMO FOI A SUA PREPARAÇÃO À ÉPOCA? CONTE UM POUCO SOBRE A SUA ROTINA DE ESTUDOS?

Antes de entrar na carreira de finança de controle (da CGU), era universitário e estava no primeiro semestre de graduação, além de trabalhar como vendedor numa loja de roupas. Fiz três meses de cursinho preparatório, pois vinha em um ritmo muito bom de estudos para o vestibular. Eu ia para Asa Sul para assistir às aulas. Acordava às 5h para pegar ônibus e conseguir chegar às 7h no cursinho. Voltava às 13h para casa para almoçar e, às 14h30, 15h, eu já estava na biblioteca para estudar as matérias dadas no dia. Saia da biblioteca às 18h, para ir a casa tomar um banho e jantar, para à biblioteca às 20h e estudar até as 22 horas. Assim foram três meses de estudos.

O QUE MUDOU NA SUA VIDA APÓS INGRESSAR NA CGU?

Após ingresso na carreira tudo mudou. Estar em uma rotina de serviço público, em um mundo até então desconhecido para mim, um jovem de 19 anos, transformou minha vida. Lembro bem de detalhes da minha chegada na Ciset/MT, que era uma das unidades da carreira de finanças e controle. Esta carreira pertencia aos quadros do Ministério da Fazenda, à época. Quando cheguei a este setor, ainda existiam máquinas de datilografia, que foram, em poucos meses, sendo substituídas pelos primeiros 386, computadores que estavam começando a chegar no serviço público, isso no ano de 1995.

A CGU JÁ ANUNCIOU UM NOVO CONCURSO PARA TÉCNICO E ANALISTA. COMO VOCÊ AVALIA A IMPORTÂNCIA DESSA SELEÇÃO? A CARÊNCIA DE PESSOAL VEM SOBRECARREGANDO BASTANTE O TRABALHO DOS ATUAIS SERVIDORES?

Em época de restrição de gastos, onde erroneamente entende-se que contratar servidor público é um gasto e não um investimento, basta perceber o retorno direto e indireto para a sociedade que aquela carreira e aquele órgão retornam. No caso da CGU, com a recuperação de dinheiro desviado, por meio de acordos de leniência, esses valores ficam claros. Por isso, qualquer concurso é positivo. No entanto, quando se analisa o tempo sem concurso e a carência de servidores no órgão, que é superior a 4 mil servidores, percebe-se que 375 novos técnicos não vão revolver o problema de falta de pessoal e sobrecarga de trabalho, provocando cancelamento de ações da CGU.

CONTE UM POUCO SOBRE O DIA A DIA DE UM TÉCNICO DA CGU? QUAIS SÃO AS ATRIBUIÇÕES DESEMPENHADAS POR ESTE SERVIDOR?

No início, de 1995 até 2000, o trabalho era tranquilo, e quem ensinava eram os próprios colegas. Durante este período, sendo muito organizado, consegui comprar um carro usado e estabilizar minha vida financeira. Em 2000, inicia-se o processo de criação da atual Controladoria Geral da União (CGU). Em 2000, foi criada a Corregedoria Geral da União e, em 2003, mudada sua denominação para CGU. Com isso, mudamos do ministério para um órgão central (atual local da sede da CGU). As rotinas do trabalho na CGU incluem análise de documentos, busca em sistemas restritos da PF e Receita Federal, entre outros, e de análise de informações sobre as investigações realizadas no âmbito das secretarias da Casa. Em cada uma delas, exige-se uma rotina específica, sendo tanto a auditoria, corregedoria, ouvidoria ou integridade. Em suma, buscamos informações para produção de relatórios das investigações que ocorrem. Algumas vezes, participamos de operações especiais que são ações em conjunto com a PF, para a busca em campo de documentos e aparelhos que possam auxiliar na investigação.

NA SUA VISÃO, PARA TRABALHAR COMO TÉCNICO DA CGU PRECISA TER ALGUM PERFIL ESPECÍFICO?

Não se exige um perfil específico para o trabalho e, com o tempo e com as formações que o órgão oferece, você se especializa cada vez mais. Por ser uma carreira de estado e realizar um trabalho tão específico e com nível alto de exigência técnica, os produtos deste trabalho realizado pela CGU têm profundo e direto impacto na sociedade. Isso, por si, já traz uma sensação de satisfação pessoal e realização íntima, pois observamos os resultados do trabalho que fazemos.

A ESTRUTURA DE TRABALHO É ADEQUADA?

Infelizmente, a estrutura é inadequada e pouco se investe na melhoria, apesar de que cada vez mais a CGU retorna, diretamente ao cofre da União, recursos que haviam sido desviados por ações de corrupção, na ordem de milhões de reais.

A CARGA DE TRABALHO É DE 40 HORAS SEMANAIS. COMO ELA É CUMPRIDA? EXISTE ALGUM TIPO DE FLEXIBILIDADE?

A carga horária é de 40 horas semanais e atualmente a maioria da força de trabalho executa essa carga por meio de home office.

A CGU INVESTE NA CAPACITAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DOS SEUS SERVIDORES?

A CGU exige e investe muito na formação do seu quadro, mantendo assim uma excelência técnica dos seus profissionais.

O PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS DOS TÉCNICOS É ATRATIVO? A CGU COSTUMA VALORIZAR A PRATA DA CASA E UTILIZAR OS SERVIDORES CONCURSADOS EM CARGOS DE CHEFIA E COMISSÃO?

O atual plano de cargos é atrativo para atrair novos servidores. A CGU valoriza muito seus servidores e, sempre que possível, estes assumem cargos na estrutura, sendo raro servidores externos assumirem cargos na CGU.

CONTE UM POUCO DA SUA TRAJETÓRIA NA CGU?

De 2000 a 2013, atuei em uma coordenação de auditoria ligada ao meio ambiente, onde acompanhávamos os órgãos ambientais do Executivo federal (Ibama, ICMBioetc) e propúnhamos melhorias. Em 2013, eu saio do órgão central e sou lotado numa assessoria especial de controle interno, no extinto ministério da Cultura. Em 2014, sou nomeado para ser assessor técnico da Corregedoria do Ministério da Integração Nacional. Em 2017, assumo como corregedor desta corregedoria. Em 2019, com a extinção do Ministério da Integração Nacional e a formação do Ministério do Desenvolvimento Regional, assumo como corregedor deste ministério, até julho de 2021. Atualmente, sou assessor do Presidente da Dataprev para assuntos de integridade.

QUAL MENSAGEM PODE DEIXAR PARA AQUELES QUE VÃO PARTICIPAR DO PRÓXIMO CONCURSO DA CGU?

Para aqueles que pretendem fazer o concurso, esperem um órgão muito especializado e com profissionais muito engajados na missão da instituição. Apesar de em termos de estrutura ter muito o que melhorar, a CGU certamente tem e terá um papel fundamental no desenvolvimento da sociedade brasileira.

 

Download da entrevista