Reajuste fica fora da pauta

Influenciado pelo clima de eleições municipais, o governo deixou claro ontem, mais uma vez, que a situação dos cerca de 300 mil servidores públicos que esperam por aumentos salariais desde maio não é um tema urgente. Apesar da expectativa dos sindicatos, o atraso na autorização dos reajustes sequer entrou na pauta da reunião de coordenação política ocorrida entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns de seus principais ministros. A indiferença irritou o funcionalismo.

Na última sexta-feira, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, havia prometido à bancada do PT do Distrito Federal na Câmara resolver o impasse a toque de caixa. Sem dar detalhes, a ministra explicou aos deputados que a demora na liberação das novas tabelas tem razões técnicas. Dilma confidenciou a pelo menos dois deles que o melhor caminho é editar medidas provisórias justamente para acalmar os ânimos das categorias e evitar maiores desgastes políticos.

Representantes de entidades ligadas às carreiras típicas de Estado foram recebidos ontem pelo ministro de Relações Institucionais José Múcio. Em mais uma tentativa de pressionar o Palácio do Planalto, os sindicatos reclamaram da falta de ação do governo e alertaram o ministro para o descontentamento geral que se alastra por setores importantes da máquina pública. Múcio, em tom conciliador, disse aos sindicalistas que o presidente Lula tem consciência da gravidade da crise e que está empenhado em resolvê-la.

O ministro se comprometeu a conversar novamente com o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. “Ele disse que o desejo do governo e até do Chinaglia é autorizar os aumentos por MP. O problema é que há uma disputa entre o governo e o presidente da Câmara e o servidor está pagando o pato”, resumiu um sindicalista. Hoje, as mesmas lideranças sindicais que estiveram com José Múcio vão se reunir com o presidente do Senado Garibaldi Alves.

Pressão
Impacientes, as carreiras de Estado planejam uma manifestação nacional na próxima quinta-feira. A forma e a abrangência do ato batizado de Dia de Protesto ainda não estão definidas. Entre hoje e amanhã, entidades de todo o país farão assembléias para decidir se farão paralisações de 24 horas ou se vão indicar aos servidores que reduzam o ritmo de trabalho ao longo do dia. Faixas fixadas em frente ao Banco Central e na Esplanada dos Ministérios exigem o cumprimento dos acordos salariais assinados com as categorias e a edição imediata das medidas provisórias com a previsão dos reajustes.

Ao todo, 54 carreiras esperam ser contempladas com aumentos ao longo dos próximos três anos. Desde a semana passada, as propostas estão sendo revisadas pela área técnica do governo. Tabelas e índices de reajustes não serão alterados, mas detalhes como datas, percentuais de gratificações para aposentados e fórmulas de avaliação de desempenho para os ativos — presentes nos acordos fechados com as carreiras — podem sofrer mudanças. –> –> –> –>