Correndo contra a corrupção

Passos rápidos contra a corrupção
 
Fonte: Correio Braziliense  
 

Grupo de 1.200 atletas se une para protestar contra a corrupção em uma corrida com largada em frente ao Congresso. O governador eleito do DF, Agnelo Queiroz, participou da prova e recebeu apoio do público.


 

Primeira edição da prova organizada em prol da ética na política reúne 1.200 atletas no percurso largando à frente do Congresso Nacional e passando pela Esplanada dos Ministérios até a Praça do Buriti

 
     Tudo contribuiu para ser um belo dia para correr: o céu estava limpo, o sol brilhando e os atletas animados. O cenário era o Congresso Nacional. O local não foi escolhido por acaso. Além de fazer exercício físico trotando ou caminhando no asfalto, os participantes estavam ali para protestar. Todos os atletas que prestigiaram a I Corrida contra a Corrupção se mobilizaram para sensibilizar a sociedade em favor da causa. “Mais do que uma festa do esporte, isso é um movimento para chamar atenção para a corrupção do país”, resumiu o organizador, Duque Dantas, da Secretaria de Controle Interno do Ministério da Ciência e Tecnologia.

     Figuras ilustres do esporte brasiliense, como o judoca Zé Mario Tranquilini, o jogador de basquete Pipoca, a jogadora de vôlei Ricarda Negrão, a corredora Carmen Oliveira e o iatista Lars Grael, se uniram à causa e foram à Esplanada. Amputado da perna direita desde 1998, Lars participou da caminhada de 1,1 quilômetro — novidade da prova — e, por ser uma espécie de embaixador do evento, discursou chamando a sociedade a fiscalizar os políticos e o poder público.

     Além da caminhada, a prova teve percursos de 4,3km e 10km. Os vencedores receberam um troféu e não houve premiação em dinheiro, como normalmente é de costume nessas competições. “A premiação é fazer parte desse movimento popular representando a categoria dos esportistas”, colocou Valdenor Pereira dos Santos, vencedor do trecho mais curto.

     O clima na corrida era de protesto. Ao lado de Lars na caminhada, a autônoma Maria Goiaci, 56 anos, disse o que a motivou. “Eu não poderia deixar de me manifestar contra a corrupção. Fazer isso aliado ao esporte é a melhor forma de acabar com esse comportamento”, explicou. Até quem não quis caminhar teve espaço. Algumas pessoas ficaram na concentração dos atletas com faixas de protesto e incentivando os atletas.

     Entre eles, o pastor e motoqueiro André Fernandes, do Esquadrão de Cristo. Ele não largou a jaqueta de couro e moto, mas só saiu da Esplanada depois que todos os corredores cruzaram a linha de chegada. “Isso é movimento social, não apenas um evento esportivo”, analisou.

     A corrida foi organizada para comemorar o Dia Internacional de Combate à Corrupção, celebrado no último dia 9. Várias organizações de fiscalização e controle se juntaram para promover a prova — o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), a ONG Contas Abertas, o Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) e a Comunidade de Inteligência Policial e Análise Evidencial (Cipae). “Temos que dar um basta na corrupção. Já provamos com a Lei da Ficha Limpa que a iniciativa popular ajuda a mudar o Brasil”, analisou Gil Castello Branco , fundador da Contas Abertas.

Trotando antes da posse

     Eleito depois da mais grave crise política do Distrito Federal, o futuro governador do DF, Agnelo Queiroz, inscreveu-se e correu o percurso de 4km. Ele chegou discretamente, instantes antes da largada, que ocorreu às 9h. Embora tenha dispensado seguranças, correu o tempo todo acompanhado pelos atletas e ouviu gritos de apoio do público na calçada. Um ônibus cheio de passageiros chegou a parar para incentivá-lo.

     Ao passar pela linha de chegada, o governador eleito ressaltou o fato de ter chegado à frente de Carmen de Oliveira, ex-campeã da São Silvestre, atual presidente da Federação de Atletismo do DF. “O percurso foi tranquilo, o que pesou foram estes meses de corrida eleitoral”, analisou. “Este tipo de iniciativa é importante para lembrar que, além do trabalho de controle do governo no combate à corrupção, a população tem o dever de fiscalizar as atividades públicas. Com os dois lados da moeda, venceremos essa luta”, argumentou.

Eu fui
“O cidadão comum tem o dever de entrar nesta discussão, abraçar a causa e se manifestar. Eu não poderia ficar de fora dessa corrida para fazer um país limpo de corrupção. Quero participar de todos os movimentos que defendem a causa”

Luiz Carlos Ferrari, 63 anos, empresário, fez o percurso de 4km

Pódio*

10km
Masculino
1° Paulo César Silva da Cruz
2° Alexsandro Jesus de Oliveira
3° Luciano Ferreira de Sousa

Feminino
1° Darilene da Silva
2° Auxiliadora Silva
3° Cristina Oliveira

4km
Masculino
1° Valdenor Pereira dos Santos
2° Rubens Gardes da Costa
3° Alberto Honório Alves da Silva

Feminino
1° Elaine Ohana de Oliveira
2° Deise Barbosa
3° Paola Silveira

* A organização não havia divulgado os tempos até o fechamento desta edição

Saiba mais
O evento custou ao todo R$ 60 mil sem recursos públicos. R$ 12 mil foram arrecadados com as inscrições o resto saiu do bolso das instituições parceiras. A conta corrente aberta para movimentar o dinheiro foi aberta e posta no site oficial do evento. A segunda edição está programada para dezembro do ano que vem. A ideia é que outros estados também o realizem, numa grande mobilização nacional.

Atletas falam

“Não aguento mais corrupção e safadeza! Está na hora de o Brasil enfrentar essa luta e ser intolerante com esse tipo de conduta”
Pipoca, ex-jogador de basquete

“É um momento de conscientização política. É importante trazer essa discussão para o dia a dia do brasileiro, provar que dá para fazer política do jeito certo”
Ricarda Negrão, ex-jogadora de vôlei, medalha de bronze nos Jogos de Sidney-2000

“A população tem que questionar o que é feito com o dinheiro público, a gente se tornou vítima desse processo e agora é a hora de reverter essa situação”
Zé Mario Tranquilini, judoca

“Nós esportistas também somos formadores de opinião, nada mais natural que um protesto contra a corrupção ocorra com uma corrida”
Lars Grael, iatista, medalha de bronze nos Jogos de Seul-88 e Atlanta-96

“O grupo que organizou a corrida é forte e antigo nessa batalha. Sempre vou apoiar eventos que ajudem educar a população e fazer do Brasil um país melhor”
Carmen Oliveira, corredora, campeão da São Silvestre em 1995