Foco no fim do sigilo

Acabar com o voto secreto em todas as decisões do Congresso é prioridade de manifestantes 

Fim da corrupção, mais poder ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), validade da Lei da Ficha Limpa. Todas essas reivindicações marcaram o protesto de ontem na Esplanada dos Ministérios, mas nenhum grito foi tão forte quanto este: “Voto secreto não. Eu quero ver a cara do ladrão”. O coro ficou ainda mais alto quando os manifestantes chegaram ao Congresso Nacional. O grupo fez uma única pausa nos brados. Cansaço? Não. Pararam para cantar o Hino Nacional. Faixas com pedidos de fim do sigilo das votações e cartazes com fotos da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), absolvida por votação secreta no processo de cassação, ilustravam o movimento.


“Estou aqui para pedir o fim de voto secreto, porque é um absurdo que isso exista. Fiquei revoltada com o julgamento da Jaqueline. As pessoas votam em um político achando que ele é uma pessoa, mas ele pode decidir algo totalmente diferente do que prometeu, sem que ninguém saiba a verdade” disse a estudante Ana Luiza Machado, de 16 anos.

Líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR) comprometeu-se a orientar a bancada a obstruir votações na Casa a partir do dia 19 até que os projetos que tratem do voto secreto sejam incluídos na pauta. “Houve um acordo há mais de um ano com o governo para que a proposta fosse apreciada e nada aconteceu”, queixa-se o senador, que acompanhou pela televisão e pela internet a manifestação em Brasília. O tucano é autor de um dos três projetos que acabam com o voto secreto.

A proposta de Dias torna aberta votações para cassação de mandato parlamentar. O projeto mais antigo em tramitação no Senado foi apresentado pelo hoje governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). O segundo, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), acaba com qualquer votação secreta no Congresso. Um substitutivo do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) estabelece exceções para o voto aberto, como a eleição da Mesa Diretora. As três propostas de emenda à Constituição estão prontas para ir à Plenário.

Farda

Durante a passagem dos manifestantes pelo Congresso ontem, nem os policiais militares e legislativos que faziam a segurança foram poupados. “Você aí fardado, também foi roubado”, gritavam os jovens. Alguns policiais riram e fizeram sinal de aprovação com a mão. Outros registraram o protesto com celulares e máquinas fotográficas.

Correio Braziliense – 13/10/2011