Autor(es): PRISCILLA OLIVEIRA e JULIANA BRAGA
Presidência foi obrigada a convocar a Polícia Militar para conter servidores do Judiciário e representantes de aposentados e pensionistas que tentaram subir a rampa da sede do Executivo. Eles queriam ser ouvidos
Em uma quarta-feira marcada por protestos na Esplanada dos Ministérios, a presidente Dilma Rousseff foi obrigada a deixar o Palácio do Planalto pela porta dos fundos. Cerca de mil manifestantes tomaram a pista em frente à sede do Executivo no fim da tarde de ontem. Os servidores fizeram de tudo para chamar a atenção da presidente, inclusive tentar subir a rampa do edifício na Praça dos Três Poderes. O Batalhão de Choque da Polícia Militar, no entanto, reforçou a segurança no local e impediu a ocupação do palácio. O ato foi comandado por servidores do Judiciário e por aposentados e pensionistas, que se uniram ao longo do dia, após caminhadas pela área central de Brasília.
Antes do encontro entre as duas classes, no entanto, os funcionários de tribunais se concentraram em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e tentaram atrapalhar a sessão de julgamento do mensalão. No momento em que os advogados dos réus falavam aos ministros da Corte, eles empunharam buzinas e apitos, soltaram fogos de artifício e gritaram palavras de ordem.
Organizada pelo Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Distrito Federal (Sindijus-DF) e pela Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e do Ministério Público da União (Fenajufe), a manifestação resultou em tumulto. Obrigados a ficar atrás das grades de proteção, os trabalhadores forçaram a estrutura de contenção e a derrubaram parcialmente. Policiais militares conseguiram acalmar os ânimos.
A intenção do grupo era que o presidente do STF, ministro Ayres Britto, ouvisse o pedido de aumento salarial da categoria, que está em greve desde
1º de agosto. Segundo a Fenajufe, entre todos os servidores de braços cruzados atualmente, os trabalhadores do Judiciário são os que estão há mais tempo sem reajuste: seis anos. Eles pedem a aprovação do Projeto de Lei nº 6613/09, que revisa o Plano de Cargos e Salários das carreiras afins.
Somente nesse Poder, a greve já atinge Distrito Federal, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso. Ainda esta semana, de acordo com a Fenajufe, todos os demais estados devem aderir à paralisação nacional. O movimento já atrasa o andamento de processos nos tribunais e causa prejuízos a quem depende de decisões judiciais.
Trânsito fechado
Ainda em frente ao STF, os funcionários do Judiciário ganharam o reforço de associados da Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas (Cobap). Com faixas e cartazes, os manifestantes criticaram a postura do governo federal de não negociar salários com os servidores e pediram a saída da presidente Dilma Rousseff. De lá, os dois grupos rumaram, juntos, para o Palácio do Planalto.
Às 17h20, os manifestantes fecharam a avenida em frente à sede do Executivo, atrapalharam o trânsito de veículos e tentaram subir a rampa. Ainda munidos com faixas, buzinas e cornetas, eles permaneceram no local até por volta das 19h, quando o governo aceitou que seis representantes da Cobap entrassem no palácio para conversar com José López Feijó, assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência.
Na reunião, que durou pouco mais de 15 minutos, os aposentados entregaram uma carta de reivindicações que será encaminhada ao ministro Gilberto Carvalho. No documento, o grupo pede aumento para os aposentados acima da inflação — de 7,38% —, o fim do fator previdenciário e a votação do Projeto de Lei nº 4434, que modifica o índice de correção previdenciária. “O governo não abre as portas para negociações, então estamos propondo esse reajuste”, justificou o presidente da Cobap, Warley Martins.