Agência O GloboPor Cristiane Bonfanti ([email protected]. | Agência O Globo
BRASÍLIA – O secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton Costa, disse que espera fechar as negociações a respeito dos pedidos de reajuste salarial até segunda-feira. Ele avisou que os servidores continuarão realizando protestos na Esplanada dos Ministérios ao longo da próxima semana.
– Vamos manter uma vigília com a presença de 600 a 1,2 mil servidores diariamente – garantiu.
Representante da maioria dos servidores do Executivo, Costa quer, antes de chegar a um acordo sobre o índice de reajuste, discutir mudanças na estrutura das carreiras. Um dos pedidos é para que valores que hoje são pagos a título de gratificações sejam incorporados ao vencimento básico. Na prática, com essa mudança, aposentados receberiam os reajustes integralmente – quando a correção é feita nas gratificações, eles só recebem 50%.
– Não tivemos novos avanços. O impasse se dá em torno dos 15,8%, índice abaixo do reivindicado. A nossa expectativa é de que, na segunda-feira, tenhamos algo mais concreto para levar para os servidores analisarem – afirmou.
A Confederação aguarda o resultado de uma liminar protocolada no Supremo Tribunal Federal (STF) que pede a suspensão imediata do corte de ponto de 11,4 mil servidores promovido pelo governo. A entidade alega que o Planejamento deveria ter descontado, no máximo, sete dias por semana, a exemplo do que ocorreu em greves passadas, e que deveria haver uma negociação para a reposição do restante dos dias.
O impasse tem causado bate-boca entre governo e sindicatos. Na manhã desta sexta-feira, o agente administrativo do Ministério da Saúde, Pedro Paulo Procópio Leite, 31 anos, foi ao Planejamento (bloco C) tentar conversar. Em greve, o servidor disse que seu contracheque está zerado, mas que ele precisa pagar pensão alimentícia de uma filha de 3 anos. Sem autorização para entrar no prédio, ele passou pelos porteiros e subiu até o sétimo andar, onde foi barrado por três seguranças. Leite, que saiu sem atendimento, reclamou da truculência do governo.
– O valor da pensão não poderia ser descontado. Isso dá cadeia – afirmou.
Negociação com Abin
Na manhã desta sexta-feira, o governo federal apresentou o mesmo índice de 15,8% aos servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que levarão a proposta para ser discutida pelas categorias.
Suzana Lage Drummond, diretora do Sindicato Nacional dos Servidores do IBGE, considerou a proposta insuficiente. Ela disse que o último reajuste foi feito em 2008 e, desde então, só a inflação corroeu mais de 20% do salário dos trabalhadores. Além disso, o reajuste seria parcelado em três anos e desconsideraria as perdas do passado. Para Suzana, os salários deveriam ser equiparados aos das carreiras de Estado, como a do Banco Central. Hoje, um analista de planejamento, gestão e infraestrutura do IBGE que não tenha retribuição por titulação ganha R$ 5,9 mil no início de carreira e R$ 10, 9 mil no final. Um analista do BC recebe entre 12,9 mil e R$ 18,4 mil. Os reajustes seriam de 118% e 68%, respectivamente.
Do corte efetuado no ponto dos servidores, o maior desconto foi no contracheque dos funcionários do IBGE – 3.379 servidores do órgão fizeram greve por um ou mais dias em julho, o que representa 52,4% da força de trabalho do órgão. A mobilização impediu, inclusive, a divulgação completa da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) dos meses de junho e julho.
Suzana classificou como lamentável a atitude do governo.
– Cortar os nossos salários teve um caráter muito punitivo diante da não apresentação de uma proposta. Apenas hoje um índice foi colocado na mesa. Este ano estamos na sexta reunião e só agora saímos com alguma proposta – considerou.