Unacon Sindical sorteará 20 exemplares do livro “A Economia Brasileira de Getúlio a Dilma – novas interpretações”

Em entrevista, Auditor Federal de Finanças e Controle Fernando Ferraz, autor de um dos capítulos, fala sobre a obra

Nesta sexta-feira, 13 de agosto, é comemorado o Dia do Economista. Em homenagem aos profissionais que fazem parte da carreira de Finanças e Controle, o Unacon Sindical vai sortear vinte exemplares do livro “A Economia Brasileira de Getúlio a Dilma – novas interpretações”. Para falar sobre a obra, o Sindicato conversou com o Auditor Federal de Finanças e Controle e doutor  em Economia pelo PPGE – IE – UFRJ, Fernando Ferraz, que é autor do capítulo sobre o governo Collor. Confira a conversa abaixo.  

Os filiados que têm interesse em participar do sorteio, devem encaminhar um email para comunicacao@unacon.org.br, com o assunto “sorteio do livro”, até 3 de setembro.

 

ENTREVISTA

Unacon Sindical – O que o leitor pode esperar do livro? No que essa obra se difere de outras que já se propuseram a analisar, ainda que com recorte diferente, a trajetória da economia brasileira?

Fernando Ferraz – O leitor pode esperar, conforme o título indica (A Economia Brasileira de Getúlio a Dilma – novas interpretações), novas interpretações que miram suprir uma lacuna existente nos livros de economia brasileira. As novas interpretações da obra partem de referenciais teóricos compatíveis com tradições heterodoxas e se colocam como uma alternativa às leituras tradicionais que, apesar de já cristalizadas, muitas vezes nos parecem insuficientes para explicar os fenômenos econômicos da história brasileira. Vale destacar que o livro incorpora contribuições teóricas desenvolvidas em anos posteriores à publicação de obras interpretativas de grande impacto mesmo dentro do campo heterodoxo.

Os capítulos, estruturados principalmente sobre os mandatos do executivo federal, são bastante ricos e, além de minuciosa contextualização, também apresentam o debate em torno dos fenômenos analisados. Isso faz com que o livro consiga ser ao mesmo tempo profundo e didático. 

Unacon Sindical – Sobre seu capítulo, sabemos que o Plano Brasil Novo ou Plano Collor foi um dos mais ousados e também mais frustrados planos econômicos do Brasil após a redemocratização. O que deu errado? 

Fernando Ferraz – Antes de falar o que deu errado, é importante qualificar que o Plano Collor foi o último dos considerados choques heterodoxos (conversão de salário pela média passada e congelamento de preços) iniciados com o plano Cruzado em 1986. Esses planos tinham acrescentado ao plano Cruzado outros esquemas de coordenação de preço, desindexação e políticas fiscal e/ou monetária contracionistas. Nesse sentido há duas respostas possíveis para a pergunta “o que deu errado?”. 

A primeira, mais benevolente com os formuladores da política, é que todos os planos dariam errado (como deram) enquanto vigorasse a situação de estrangulamento externo vivenciada pelos países da américa latina a partir do começo da década de 1980. As desvalorizações cambiais sucessivas foram fonte permanente de pressão inflacionária e a estabilização não seria possível neste contexto.

A segunda resposta, um pouco mais crítica à política em si, é que ela está assentada sobre um diagnóstico errado acerca do processo inflacionário brasileiro. O plano era, essencialmente, ligado à capacidade de controle dos movimentos dos agregados monetários. Sendo um pouco mais técnico, os formuladores julgavam que a pressão sobre a expansão de M1 nas tentativas de estabilização anteriores vinha da possibilidade de conversão dos estoques de riqueza em poder de compra. É importante dizer que na nossa visão a moeda é endógena ao processo econômico, logo seu controle quantitativo não é uma meta factível. Ademais, interpretamos também que a inflação brasileira tinha origem e dinâmica no conflito distributivo que viria a ser solucionado com uma política de valorização cambial possível apenas, conforme mencionado, no contexto de relaxamento das restrições externas. Confirmam esta visão o fato de que o plano Collor fracassou a despeito de ter causado uma profunda recessão na economia e que o plano Real foi bem-sucedido sem que tenha ocorrido nenhuma mudança drástica na condução da política monetária.

Unacon Sindical – Essa publicação é lançada num momento de aprofundamento da crise econômica brasileira, em decorrência da pandemia. Se olharmos para trás, de Getúlio a Dilma, quais lições podemos aplicar em uma nova tentativa de retomada do crescimento?

Fernando Ferraz – Por cobrir um longo período, o livro trata de momentos históricos de transição frente às mudanças das condições estruturais domésticas e internacionais. Por exemplo, o primeiro capítulo sobre Getúlio Vargas discute precisamente o esgotamento da ordem liberal do sec. XIX que ensejou em todos os países (inclusive Brasil) experiências de política econômica mais intervencionistas num ensaio do que viriam a ser as políticas desenvolvimentistas do pós 2ª guerra. Neste período, a despeito do forte crescimento da industrialização e mudança estrutural, o livro registra também as limitações de tal modelo de intervenção econômica em promover um processo de inclusão socialmente justo ou até mesmo menos desigual. A virada internacional depois do choque dos juros de 1979, concomitante ao crescimento da ideologia neoliberal, também é descrita nos artigos que cobrem os governos a partir deste momento. Finalmente, discute-se como a estabilização da economia não foi capaz de, por si, propiciar um ciclo virtuoso de desenvolvimento econômico. Ou seja, o livro trata de vários movimentos pendulares entre paradigmas de política econômica e as limitações de cada um desses. Assim, o leitor poderá através do exame crítico de tais experiências, adaptados ao contexto peculiar do século XXI projetar e discutir soluções para os impasses econômicos e sociais da atualidade.