Em nova crônica, Osmar Monte aborda transformações e hipocrisias de uma jovem

Outros trabalhos de Oscar Monte podem ser encontrados no site do Unacon. Confira o mais novo texto dele na íntegra.

A Beata Pecadora

por Osmar Monte

Conheci uma linda piriguete, quando ela era adolescente, agia como se a vida não tivesse limites para ações de lazer, namoros e libertinagens. Era uma menina graciosa: de rosto angelical, cabelos sedosos e revoltos ao vento; boca sequiosa; lábios ávidos de desejos e olhos inquietantes na busca de parceiros; cílios e supercílios pintados com produtos de maquiagem.

Gostava de vestir roupas extravagantes mostrando o dorso, short curto e marcante na dianteira; as pernas modeladas e bustiê insinuante com os mamilos facilmente visíveis. Quem a visse podia confirmar: uma verdadeira princesa, simpática, sorriso à flor da pele, mas, ao mesmo tempo, era uma serpente de cabelos disposta a dar o bote.

Era assim a menina-moça de nome Solange, chamada de “Sol” (ou “Raio de Sol”), filha de dona Luana (chamada de dona “Lua”). Ela tinha brilho no rosto, centelhas nos olhos, ardor nos lábios e hipnose com domínio na voz. O seu nome faz jus aos atributos que ela tem. Desde cedo a adolescente abandonou os estudos. Queria mesmo era luxar, passear, viajar, participar de shows, festas, bares, restaurantes, clubes, piscinas e namorar sem se prender a ninguém (ou melhor “ficar”); sem compromisso e sem fidelidade. Liberdade total (ou libertinagem sem igual). 

Agora “Raio de Sol” é uma jovem mulher. Ainda não chegou aos trinta anos; está na casa dos vinte anos. Cheia de juventude e mais experiente. Voltou a estudar, ingressou na Faculdade de Direito e pretende ser advogada famosa. Tenta mudar a performance de outrora porque quer se apresentar como uma dama de primeira linha. Deixou de fumar, deixou de beber bebidas alcoólicas; largou a vida noturna; se afastou de algumas amizades perniciosas e ganhou mais vaidades nas vestimentas e nos produtos de beleza.

Ela, diariamente, usa forte maquiagem, vestido longo marcando as curvas do corpo; cabelos longos (com “aplique”); lábios pintados com batom vermelho; unhas compridas e desenhos da moda; sandálias do tipo rasteirinha, em alguns momentos. Noutras ocasiões, ela usa sapatos altos e caminha de maneira sobranceira, como se estivesse montada num cavalo alado, insinuando ser poderosa e dominadora. Ela continua presunçosa, cheia de orgulho e vaidade.

E mais: ela procurou uma Igreja Evangélica para ser convertida ao protestantismo; tornou-se crente e foi batizada nas águas, renascendo para uma nova vida de santidade. Ela pensa em encontrar um varão na Igreja e casar numa solenidade gloriosa, com tudo que uma noiva tem direito.

“Raio de Sol” não é uma inocente. Teve vários namoros, “ficantes”, paqueras, “peguetes” e avulsos. E é mãe de 3 crianças; mãe solteira e desimpedida. Tem ambição, completa alucinação para ganhar dinheiro; quer ser empresária e rica. Pensa em mais luxo. Já comprou um veículo de passeio. Nas Redes Sociais faz diversas postagens com exibição e ostentação como se o mundo estivesse aos seus pés.

Ela afastou-se de alguns familiares por considerar que eles não querem progredir. Todavia, ela não ajuda a nenhum; nem com 1 real. Todo dinheiro que consegue ainda é pouco para atender a tanta vaidade.

Na Igreja, apresenta-se como uma irmã convertida, simpática, dócil e acolhedora. É admirada pelo pastor da Congregação e faz parte do Grupo de Estudos Bíblicos – é quase santa, na aparência diante dos irmãos evangélicos.

No íntimo, “Raio de Sol” não mudou; continua com espírito odioso e vingador, solta veneno quando a mãe dela diz algo que a desagrada. Ela continua com o coração duro e insensível; não ajuda o próximo; não faz caridade. Aumentou o orgulho, a vaidade e desprezou a solidariedade. Tornou-se mais presunçosa, ambiciosa e prepotente. Uma mente maldosa e venenosa que solta farpas contra os familiares. Não é boa mãe, não é boa filha e não tem fraternidade com os irmãos.

E, ainda, tem forte impulso de fornicação. No corpo fervilha o vírus do sexo com o desejo de êxtase buscando um varão rico para o deleite. Na verdade, “Sol” (ou “Raio de Sol”) finge ser uma santinha, convertida, batizada, confirmada na Palavra Bíblica; mas, ao contrário, é tudo de fachada e ela não passa de uma Beata Pecadora na Igreja. Peca impiedosamente e de maneira dissimulada, em grande escala, por pensamentos, palavras, ações e omissões.

 

José Osmar Monte Rocha é Auditor Federal de Finanças e Controle (AFFC) aposentado, poeta e professor. Natural de Barra do Corda (MA), Rocha tem assento na Academia Barracordense de Letras desde 1996 e é membro titular da Academia de Letras de Águas Lindas (GO). Já teve trabalhos publicados em pelo menos quatro edições das coletâneas “Escritores do Brasil” e “Poetas do Brasil”, organizadas por Aparício Fernandes. Atualmente é colunista do jornal digital “Turma da Barra”, hospedado no Facebook.

 

 

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