Dilma comprometida

Preocupado com os estragos políticos que os atrasos na liberação dos reajustes salariais do funcionalismo podem causar, uma parte do governo resolveu sair da inércia. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem a parlamentares da bancada do PT do Distrito Federal que o assunto ganhou status de prioridade zero no Palácio do Planalto. Dilma afirmou aos parlamentares que a demora na autorização dos aumentos será tratada em separado na reunião de coordenação política, marcada para segunda-feira, da qual participam ministros e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No encontro com a ministra, alguns deputados advertiram que o clima na Esplanada piorou bastante depois da seqüência de adiamentos no anúncio do pacote. Dilma reconheceu que há dificuldades técnicas na análise dos termos de acordo, que o processo de revisão técnica está lento, mas procurou tranqüilizar os colegas de partido. “Eu quero resolver esse problema”, teria dito, segundo relatou ao Correio um dos participantes da reunião.

Dilma Rousseff não se comprometeu com datas, mas deu a entender que — assim como as 54 carreiras e os cerca de 300 mil servidores federais que serão contemplados — o próprio governo está farto desse impasse. A ministra da Casa Civil confidenciou a um deputado que a opção mais provável é editar medidas provisórias: “Minha opinião é que deve sair por MP e não por projeto de lei, mas a decisão será de governo”.

Correndo por fora, os articuladores do Planalto reforçaram ontem os contatos com os líderes de partidos da base governista e da oposição no Congresso. O ministro de Relações Institucionais, José Múcio — escalado por Lula para acalmar os deputados —, negocia diretamente com o presidente da Câmara, Alindo Chinaglia, o formato ideal para o envio das propostas de aumento. Chinaglia tem restrições a MPs por acreditar que a pauta de votações ficará ainda mais travada até o fim do ano. A intervenção de Múcio tem como objetivo vencer essa resistência.

Aos poucos, Múcio tem conseguido avanços. O principal deles é a promessa de revogação da MP 437, que transforma a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca em ministério e cria cargos sem concurso. Assim, a tensão política diminuiu na Câmara. Um dos ministros mais próximos de Lula disse ao Correio que falta pouco para convencer Arlindo Chinaglia a aceitar o envio das duas medidas provisórias que atenderão ao restante das categorias do Executivo federal. “Em ano eleitoral nem a oposição fica contra aumento de servidor”, reforçou.

Entre os sindicatos, o sentimento de frustração aumentou. Nem as entidades mais alinhadas com o governo acreditam em solução rápida. Representantes das carreiras típicas de Estado planejam realizar um protesto nacional este mês, inclusive com paralisações de 24 horas. As carreiras intermediárias também programam greves de advertência.