Dilma pede ajuda do Congresso

Correio Braziliense – 11/08/2011

     Enquanto os trabalhadores se mobilizam em todo o Brasil para pressionar o governo, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, insistiram ontem para que os partidos aliados não aprovem legislações que resultem em novos gastos. Preocupado com os efeitos no Brasil da situação dos Estados Unidos e da Europa, o Executivo não quer abrir mão do ajuste fiscal posto em prática desde fevereiro, quando foi anunciado um corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União. “Não podemos repetir o impasse entre republicanos e democratas”, disse Dilma. A presidente pediu aos líderes e presidentes de partidos aliados que tenham maturidade para enfrentar a crise econômica, de forma a preservar a oferta de emprego e o crescimento da renda. A presidente fez um apelo ainda pela união dos aliados para aprovar as medidas de incentivo à indústria e às microempresas, com o propósito de alavancar o setor produtivo. “Diante da conjuntura econômica internacional adversa, temos que fazer economia para manter o emprego e combater a concorrência predatória e desleal. Não podemos jogar dinheiro pela janela”, afirmou a presidente, de maneira incisiva. A decisão do governo atinge diretamente os servidores públicos. Estima-se que os projetos em andamento no Congresso Nacional para dar aumento ao funcionalismo tenham impacto orçamentário de R$ 153 bilhões. A partir de agora, se quiserem melhorias, as entidades sindicais terão de barganhar muito. O plano do governo é mostrar às categorias que elas tiveram ganhos salariais acima da inflação durante os oito anos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O discurso é de que, agora, a hora é de pisar no freio. Num cenário muito otimista, a correção levará em conta apenas a correção da inflação. Para se ter ideia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, citou textualmente os projetos que o governo não deseja ver aprovados no Congresso: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que aumenta salários de policiais civis e militares, o reajuste dos vencimentos do Poder Judiciário, incluído num projeto em análise no Congresso, e, por último, a regulamentação da Emenda 29, que prevê a ampliação dos gastos em saúde, sem a contrapartida na receita. O ministro lembrou ainda da necessidade de aprovar propostas que ajudem o governo a blindar a economia nacional. Citou como exemplo o acordo do Supersimples, que elevará o numero de empresas que podem recorrer a essa forma de tributação. Mantega já havia passado a tarde de terça-feira no Congresso explicando a crise aos congressistas. Ontem, o objetivo da reunião foi aproximar os políticos da presidente, neste momento que soa como o mais delicado de seu governo, depois da queda de ministros e denúncias de corrupção em várias áreas. No entanto, a presidente não obteve de pronto a garantia de aprovação das propostas mais urgentes. Dos líderes, ouviu cobranças. O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), falou da necessidade de cumprir a liberação de recursos para as emendas parlamentares. O líder do PSB, Antonio Carlos Valadares (SE), falou abertamente da necessidade de Dilma ficar atenta às intrigas políticas que podem terminar prejudicando o governo. No Congresso, os peemeedebistas pregaram justamente a votação de propostas que o governo rejeita, caso da PEC 300 e da regulamentação da Emenda 29.