Esther Dweck e Pedro Paulo Zahluth alertam: neoliberalismo retarda a recuperação da crise

Para os economistas, política de austeridade fiscal e visão de estado mínimo também acentuam a desigualdade. O painel “Finanças Públicas e Desenvolvimento” foi apresentado na tarde desta quarta, 27

O painel “Finanças Públicas e Desenvolvimento” abriu a tarde do primeiro dia do III Conacon, nesta quarta-feira, 27 de novembro. Na mesa, mediada pelo secretário executivo do Unacon Sindical, Bráulio Cerqueira, os economistas Esther Dweck, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Pedro Paulo Zahluth, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), fizeram uma análise do papel das finanças públicas no desenvolvimento do país. Os especialistas explicaram como o neoliberalismo retarda a recuperação da atual crise econômica.

Para a professora Esther, é preciso estar claro que o Estado tem função fundamental no desenvolvimento do país.  “Ao contrário do que as pessoas imaginam, uma atuação mais forte do Estado não significa descontrole ou um aumento desenfreado da dívida”, ponderou.

Analisando gráficos de recuperação de crises enfrentadas pelo país, em 1929, 1980, 1989, 2008 e a atual, constatou: as mais rápidas recuperações foram impulsionadas pelo Estado. “Estamos na crise de mais difícil de recuperação da história. Metade dos estados brasileiros já têm mais trabalhadores informais do que formais; a crise empurrou 4,5 milhões para extrema pobreza; a renda dos 10% mais ricos aumentou mais do que a dos 40% mais pobres; a estrutura de desigualdade que já existe está só aumentando. Grande parte disso tem a ver com o fato de o Estado, simplesmente, se eximir da sua função estabilizadora”, avaliou a economista.

Também crítico à política de austeridade, vigente no país desde 2015, o professor Pedro Paulo Zahluth, ressaltou que a redução do gasto público influencia negativamente nos resultados do mercado. “O período de maior crescimento é justamente o que se amplia o gasto social. O neoliberalismo vem acompanhado da redução da taxa de crescimento e do investimento. É preciso estar claro que o aumento do investimento público não expulsa o investimento privado, pelo contrário, o estimula.” Ele criticou a recente afirmação do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que os pobres consomem toda a renda, e assim, não colaboram com o aumento da taxa de poupança, que, segundo o ministro, ajudaria na retomada do crescimento.

“Se, por exemplo, os servidores resolverem cortar o consumo, o que eles deixarem de gastar não vai virar investimento. Teóricos mostram que a expansão do consumo e do investimento andam juntas. A redução do consumo provoca uma queda na demanda e amplia a capacidade ociosa dos investimentos”, afirmou Zahluth.

Para concluir, o economista ressaltou que recuperar o crescimento sustentado e o desenvolvimento da economia brasileira é mais importante do que tentar obter, a curto prazo, o equilíbrio das contas públicas. “Só essa retomada pode produzir, ao longo do tempo, uma recuperação também sustentada das receitas tributárias, que estão quase estagnadas. Se o governo buscar equilibrar as contas nesse contexto, ele vai acabar reafirmando esse cenário de estagnação da economia brasileira”, disse.

 

GRUPOS DE TRABALHO

A programação do III Conacon seguiu com os Grupos de Trabalho. Os 135 congressistas se dividiram para debater: “Desenvolvimento Institucional da CGU e da STN em meio à reforma do Estado e da Administração”; “Fortalecimento da carreira de Finanças e Controle” e “Política e Organização Sindical”. Dos grupos sairão as propostas de diretrizes para apreciação da plenária, no último dia do Congresso. As diretrizes vão nortear a atuação do Sindicato e da carreira de Finanças e Controle nos próximos anos.

O vídeo completo da palestra estará disponível em breve aqui no site do Unacon Sindical. A programação segue nesta quinta-feira, 28, com painéis sobre Lei Anticorrupção e Acordos Leniência, às 9h, e Dívida Pública Federal, às 11h.  Confira a programação completa aqui.