Novo conto de Osmar Monte Rocha aborda a solidão no mosteiro

“A vida de um monge não é apenas oração e trabalho; existe santidade, fé, esperança, penitência e momentos de reflexão, tristeza e solidão”; leia na íntegra

A solidão do mosteiro

por Osmar Monte Roscha*

 

Quem pensar que a vida de monge é fácil, está enganado. Quem imaginar que a vida dentro de um mosteiro é tranquila, está equivocado. O monge cumpre disciplina rigorosa: obediência, pobreza e castidade. Não há tempo para ociosidade nem espaço para liberdade. Os horários são rígidos e tudo é feito a tempo em cumprimento do rito estabelecido.

Quando se fala em monastério logo vem a lembrança do mais famoso Mosteiro, o Mosteiro de São Bento, criado por São Bento (Bento de Núrsia – Itália – 480 – 547) em 529, no Monte Cassino. Ele fundou a “Ordo Sancti Benedicti (Ordem de São Bento). O princípio fundamental da ordem é: “Ora et Labora” (Orar e trabalhar).

Mas a vida de um monge não é apenas oração e trabalho; existe santidade, fé, esperança, penitência e momentos de reflexão, tristeza e solidão. A mente divaga, o coração fica vazio e deseja companhia e alegria para suportar as tarefas e a clausura intensa.

Existem outros líderes espirituais em diversas correntes religiosas: os monges budistas, os hindus, os islamitas, os cristãos: padres, pastores, espíritas e sacerdotes de religiões de matrizes africanas. Todos exercem o seu mister; enfrentam adversidades, sofrem desafios e são testados por duras provações para o cumprimento da fé e da doutrina professada. Cada um ensina o caminho da verdade, da bondade e do amor; e a busca constante para atingir o aprimoramento espiritual com o objetivo de alcançar o Reino de Deus.

Alguns sacerdotes sofrem angústia, desânimo e depressão; e crise de fé em decorrência do Modus Vivendi (Modo de Viver); por terem restrições de liberdade social; por não terem esposas e filhos; e por não poderem namorar; pela exigência de castidade, etc… as tentações atacam, a esperança fraqueja e a fé de espírito adoece, ficando vulneráveis aos balanços do mundo material.

Na área feminina existem as Ordens Religiosas que acolhem meninas e moças em Conventos para a formação de freiras (irmãs), na mesma linha de ação dos frades (ou padres). O Regime é rigoroso e não sobra margem de tempo para deixar livre para o pecado. A vigilância é total. As freiras da Ordem das Carmelitas vivem em completa clausura e isolamento do mundo exterior. Vivem descalças e sem contato com a população. Não há brecha para o espírito maligno operar. A santificação é a meta desejada.

Tempos atrás a imprensa divulgou notícias de padres POPs (populares), conhecidos e admirados pela mídia e pelos fiéis, que foram atingidos pela doença da alma chamada depressão. Ninguém está livre de doenças do corpo e da alma.

Recentemente, em Planaltina – DF, um padre cheio de vida e conselheiro repleto de amor ao próximo viajou à sua cidade natal (Caxias do Sul-RS) para rever familiares e no apartamento do pai, atirou-se de cima para baixo e provocou a própria morte. Não se sabe a razão.

No mês passado em Taguatinga, numa paróquia bem frequentada, o Padre após a missa saiu para a porta da frente com o objetivo de cumprimentar as pessoas; quando aproximou-se de mim, ele me olhou com um olhar esperançoso e disse-me: “Irmão, ore por mim”. Senti uma grande responsabilidade e tentei entender o sentimento do padre; me pareceu fragilizado, talvez pela responsabilidade de conduzir um grande rebanho. Depois eu soube que o padre não mora na casa paroquial, nem mora só porque sente insegurança; e mora na casa da mãe, que lhe dá o apoio.

A verdade é que a vida de monge, padre ou sacerdote de qualquer organização religiosa é cheia de trabalho, luta, desafio, cansaço e tentação; e no mosteiro ou fora dele, em muitos casos, a solidão invade o08 peito e machuca a alma. Diante de tantos percalços no exercício da fé, me resta desejar a todos: Pax Domini! (A Paz do Senhor).

 

José Osmar Monte Rocha é Auditor Federal de Finanças e Controle (AFFC) aposentado, poeta e professor. Natural de Barra do Corda (MA), Rocha tem assento na Academia Barracordense de Letras desde 1996 e é membro titular da Academia de Letras de Águas Lindas (GO). Já teve trabalhos publicados em pelo menos quatro edições das coletâneas “Escritores do Brasil” e “Poetas do Brasil”, organizadas por Aparício Fernandes. Atualmente é colunista do jornal digital “Turma da Barra”, hospedado no Facebook.

 

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