O céu é dos servidores, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou uma reunião reservada com funcionários que trabalham no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para defender os servidores públicos e criticar os ministros. Aos primeiros, agradeceu pela dedicação, que não seria deixada de lado mesmo com a “má remuneração” paga pela União. Já os segundos ouviram um pito, por demorar na realização de obras do PAC e faltar com a verdade ao prestar contas ao Palácio do Planalto.

Lula começou seu discurso de quase 30 minutos com o afago ao funcionalismo, depois de destacar que nunca antes na história um presidente se encontrara com um grupo de servidores para demonstrar gratidão pelo trabalho realizado e pedir mais empenho na execução de programas oficiais. “Não sei se alguma vez alguém agradeceu aos servidores públicos, porque normalmente os servidores são bode expiatório para muitas mazelas de coisas que não funcionam na administração pública”, declarou Lula.

Na parte final da cerimônia, o presidente reconheceu que nem todos os funcionários públicos no Brasil são bem remunerados. “Somos um país ainda de casta nessa área. Algumas categorias ganham muito e outras ganham muito pouco.” Em seguida, Lula deu a entender não ter como cobrar ainda mais de trabalhadores que recebem R$ 4 mil ou R$ 5 mil por mês para trabalhar até 16 horas por dia. “Só posso dizer para vocês que muitos terão um lugar no céu quando não estiverem mais aqui, porque a dedicação é muito grande”, disse Lula.

“Eu tiro pela Presidência da República. Tem gente que entra aqui às oito horas, sai daqui à meia-noite e nunca reclamou, pelo menos para mim. Acho que esse é o sacrifício de quem está na máquina pública.” Apesar de insistir que a reunião tinha um caráter de agradecimento, o presidente passou a maior do tempo reclamando dos ministros. Mostrou-se irritado com o fato de receber dos auxiliares informações que são desmentidas posteriormente. Deixou claro que não aceitará mais, por exemplo, descobrir que uma obra anunciada como concluída ainda não está pronta para ser inaugurada.

Ou que o valor investido é menor do que o informado pelo ministro. “Decidi que agora só vou citar número que vier por escrito e assinado pelo ministro. Qualquer um pode passar por mentiroso, menos o presidente da República”, declarou Lula. Entre os presentes estavam a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os titulares das Cidades, Márcio Fortes; dos Transportes, Alfredo Nascimento; de Minas e Energia, Edison Lobão; da Fazenda, Guido Mantega e da Saúde, José Gomes Temporão.

Capitã
Chamada de “mãe do PAC” por Lula no início do mês, Dilma foi a única a se safar da reprimenda. Além disso, foi estimulada a cobrar os colegas. “Companheira Dilma, sei quantas vezes você briga com seus companheiros ministros. Às vezes, o capitão é obrigado a xingar o jogador do próprio time que não está suando a camisa”, afirmou o presidente, usando o termo a que se referia quando falava de José Dirceu. Lula voltou a dizer que quer visitar as 27 capitais do país. E lembrou que há dinheiro em caixa, o que acaba com a desculpa dos ministros, entoada no primeiro mandato, de que projetos não saem do papel devido a restrições orçamentárias impostas pela equipe econômica.

“O que vai acontecer com meus amigos Guido Mantega e Paulo Bernardo (Planejamento)? Quando chegar o fim do ano e a gente não tiver investido o que estava previsto, vão dizer que o governo não tem capacidade de execução e que vão diminuir o dinheiro do PAC. E nós precisamos aumentar o dinheiro do PAC”, disse Lula. –> –> –> –> –>