Agência Fitch anuncia concessão de grau de investimento ao Brasil

A agência de análise de riscos Fitch Ratings anunciou nesta quinta-feira (29) a concessão de grau de investimento ao Brasil.

O país teve sua classificação elevada de BB+ para a categoria BBB-, o que significa que passa a ser considerado local seguro para recursos estrangeiros.


O que é
A avaliação de risco de investimento é um sistema de nota desenvolvido por agências de análise de riscos para alertar os investidores de todo o mundo sobre os perigos do mercado em que eles escolhem para aplicar seu dinheiro.

A partir da nota de risco recebida por determinado país, os investidores podem avaliar se a possibilidade de ganhos (por exemplo, com juros maiores) compensa o risco de perder o capital investido por causa da instabilidade do país em questão.

O principal benefício de o país se tornar “investment grade” é atrair grandes investidores de países desenvolvidos que, por regras dos seus estatutos, só podem investir em ativos considerados de baixo risco.

Como a Fitch classifica
A classificação da Fitch tem 23 categorias. A principal, AAA, é atribuída a países como Alemanha, Estados Unidos e Suíça. A D, que não é atribuída a nenhum país, é a mais baixa. O Brasil recebeu a décima nota, BBB-, a menor da faixa em que estão os países com grau de investimento. Países classificados abaixo da categoria BBB- são considerados de “grau especulativo”.

De acordo com a agência, o rating “BBB” (BBB+, BBB e BBB-) indica que há baixa expectativa de risco de crédito. A capacidade de pagamento de compromissos financeiros é considerada “adequada”. “Todavia, mudanças adversas nas circunstâncias e nas condições econômicas têm mais possibilidade de limitar essa capacidade”, diz a agência.

‘Dramática melhora’
“A concessão do ‘investment grade’ reflete a dramática melhora dos resultados do Brasil nos setores externo e público, que reduziu enormemente a vulnerabilidade do país a problemas externos e a choques de câmbio, fortificou a estabilidade macroeconômica e aumentou as perspectivas de crescimento a médio prazo”, diz a nota oficial da agência.

Com o anúncio, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que operava em baixa, passou a subir, mas em seguida voltou a recuar e terminou o dia em queda.

Segundo a agência Fitch, “as autoridades estabeleceram um histórico de comprometimento com inflação baixa e com o superávit primário que dispersou preocupações anteriores sobre a sustentabilidade fiscal a médio prazo”.

A nova nota de grau de investimento também é sustentada pelo que a agência chamou de uma “economia diversa e de alto valor, refletida na renda per capita, que, com cerca de US$ 7 mil, está em linha com a média BBB, e sua relativa estabilidade política e social”.

“A impressionante melhora nas finanças externas, em parte motivada pelo preço mais alto das commodities, mas também pelo resultado de uma boa política de gerenciamento, junto ao status de credor, fez o Brasil muito mais resistente a choques financeiros globais e aumentou a credibilidade de sua política macroeconômica”, disse Shelly Shetty, diretora-sênior da Fitch, na nota oficial.

Segundo ela, o superávit fiscal maior que a atual meta de 3,8% do PIB também ajudou o Brasil a enfrentar um fator chave para sua avaliação – as fracas contas públicas.

De acordo com a nota da agência, o Brasil emergiu como credor público pela primeira vez “graças às habilidades do governo de gerenciamento de seus compromissos financeiros e de um acúmulo significativo de suas reservas intrnacionais, que atualmente estão em torno de US$ 200 bilhões”.

Problemas
Apesar da concessão do grau de investimento, a Fitch afirma que a nota do Brasil continua a ser restringida “pela fraqueza estrutural das finanças públicas, pela pesada dívida do governo (67% do PIB contra 28% para a média BBB), e por uma desfavorável, embora em fase de melhoria, estrutura da dívida doméstica, além do ritmo glacial de realização de reformas estruturais”.

Para a agência, será “visto positivamente” se o país conseguir superar essas restrições pela implementação de reformas que melhorem o potencial da economia e fortaleçam as finanças públicas.

Para o diretor-executivo da Fitch no Brasil, Rafael Guedes, o país necessita “melhorar muito” para alcançar patamares superiores na faixa de classificação de risco da agência.

Mais uma
O anúncio da Fitch se segue ao da Standard & Poor’s, que se tornou a primeira entre as três maiores agências de rating do mundo a conceder o grau de investimento ao País, ao elevar, no último dia 30 de abril, a nota brasileira.

Com isso, a Moody´s se torna a única das três grandes agências que ainda não concedeu a classificação para o país. No início de maio, a Moody´s manteve o Brasil aquém do grau de investimento, alegando que o país precisa ajustar os gastos e fazer reformas para alcançar o grau de investimento.

Na quarta-feira, o Brasil também já havia recebido o grau de investimento da agência canadense DBRS, que elevou a classificação nacional de de positiva para estável.

Repercussão
Para o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal, a decisão abre caminho para novos investidores estrangeiros entrarem no país.

“É bem significativo, porque existem vários fundos institucionais que só podem investir em países que são ‘investment grade’ por duas das três principais agências de classificação de risco”, diz. “Toda barreira que qualquer investidor pudesse ter caiu agora”.

Para Leal, o movimento de entrada de investidores não deve ser imediato. “Esse tipo de cliente não toma decisões imediatamente, [mas] analisa a composição do portfólio de investimentos, são procedimentos mais de médio prazo”, diz. “Mas com certeza abre um caminho para esse dinheiro”, diz.

Apesar do otimismo com a nova melhora da nota, o professor de finanças do Ibmec São Paulo Alexandre Jorge Chaia não prevê uma ‘enxurrada’ de dólares de novos investidores ao Brasil no curto prazo.

“Há pelo menos um ano já se espera isso. Não é uma coisa de uma hora pra outra. Muita gente já adquiriu títulos do governo brasileiro na expectativa de que, no momento em que virasse aumentasse ademanda por esses títulos e eles pudessem vender para ganhar dinheiro”, diz. “Então pode ser que, no curto prazo, muitos desses títulos acabem só mudando de mão.

Para Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios, a recente piora das contas externas brasileiras nos últimos meses não deve prejudicar a perspectivas de avaliação no Brasil.

“O que a agência analisa é a possibilidade de o país dar calote, e essa possibilidade é zero, porque o que nós temos de reserva cobre o que nós temos de dívida”, diz.

Para o professor Alexandre Assaf Neto, da Fipecafi, a melhora da nota do Brasil reflete um momento de abundância de dinheiro mercado financeiro internacional. Segundo Neto, existe uma ‘enorme’ quantidade de fundos de investimento com disponibilidade para investir que estão em busca de países atraentes.

”Quando encontra um país, existe uma pressão do próprio mercado sobre as agências para que elas dêem grau de investimento e eles possam investir nesse país”, diz.

Segundo ele, o Brasil se destaca entre as opções atraentes de investimento porque tem tamanho, potencial de crescimento e estabilidade. “Agora, se o governo conseguir melhorar os gastos públicos e a política fiscal, seremos felizes como num conto de fadas”, diz. “Se isso não melhorar e precisarmos criar impostos para cobrir os gastos, o efeito dos graus tende a desaparecer”, diz.